O desafio da adolescência

Cada vez mais me preocupa a apatia, a tristeza e a falta de sentido para a vida que ouço e sinto nos adolescentes que acompanho na minha prática clínica.

A prática da parentalidade é sem dúvida um desafio gigante cada vez com maiores exigências, impostas pela sociedade em que estamos inseridos e por nós mesmos pela nossa necessidade de certeza e pela nossa vontade de “fazermos” dos nossos filhos, os mais felizes, sem muitas vezes termos a consciência da pressão que lhes colocamos e sem termos a capacidade de lhes perguntar: O que precisas para te sentires feliz? O que é para ti verdadeiramente importante para que te sintas realizado?

Investimos muito na sua educação académica, como promissora de uma vida melhor e mais feliz, enchemos as suas mochilas de livros e esperamos que eles fiquem sábios e assim consigam ter um excelente emprego, ter bons ordenados, para terem uma casa grande… e casarem… e terem filhos… e assim serem felizes e realizados!

Ah e também têm que ter muitas atividades extracurriculares, para terem um melhor desenvolvimento físico e social… e poderem ter mais amigos e ter… e ter… e ter…

Mas será que tudo isto os faz realmente felizes?

Com tudo o que têm de fazer, para TER o que esta sociedade diz que é o melhor para eles, quando irão ter tempo para SER? Para serem eles mesmos e sonharem com o que realmente os faz sentirem-se felizes e realizados?

Queremos que eles sejam os melhores, e que tenham tudo o que pensamos ser importante para eles… Ou queremos que eles sejam aquilo que nós não conseguimos ser?? E colocamos neles a mochila das nossas expectativas sem que os deixemos elaborar o que é realmente importante para eles?

As mochilas vão sendo carregadas de livros, de material escolar, de medo de errar, medo de não ser suficientemente bom, de incertezas, de uma competitividade desumana, da comparação com os outros que começa na pré-escola, etc. em vez de as enchermos de afeto, de sonhos, de criatividade, de respeito e autorresponsabilidade, da consciência do seu próprio potencial, de gratidão e amor próprio!

Dizemos demasiadas vezes: tens que encontrar um sentido na vida, talvez devêssemos dizer: Que tens tu para dar à tua vida? Quais são os teus sonhos?

Quando terão eles tempo para perceber que sentido podem eles dar à sua vida?

Perguntem aos vossos filhos o que os impele a agir! Não os deixem continuar a sobreviver em modo automático, a sentirem-se ansiosos, porque ninguém lhes perguntou quem querem SER e para onde querem ir.

Ensinem aos vossos filhos que a vida se constrói todos os dias a cada decisão que tomam, ninguém tem a receita da felicidade, são eles que têm de fazer a sua própria receita, com os ingredientes que fizerem sentido para si mesmos. 

Precisamos de adolescentes com pensamento critico e responsáveis para que se tornem adultos felizes e realizados. A verdadeira felicidade tem a ver com emoções, tem a ver com sentimentos, tem a ver com aquilo que os impele a agir!

A verdadeira felicidade está no Ser e não no Ter.

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